Na terça-feira, 6 de maio, a Irmandade da Santa Casa de Caridade de São Gabriel realizou uma coletiva de imprensa para apresentar dados sobre a atual situação da instituição, que atende São Gabriel e outros dez municípios da região.
O provedor Cilon Lopes de Siqueira conduziu a apresentação destacando os principais desafios enfrentados, em especial os efeitos do subfinanciamento crônico da saúde pública. Mais de 90% dos atendimentos realizados pela Santa Casa são pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas o repasse do SUS cobre, em média, apenas 50% do custo real de cada procedimento. Isso impõe uma pressão contínua sobre as finanças da instituição, que segue operando com esforço redobrado para manter o atendimento à população.
Outro exemplo de descompasso entre demanda e repasse foi citado em relação ao convênio do Pronto Atendimento (PA), mantido com a Prefeitura de São Gabriel. O contrato cobre um número menor de exames, como por exemplo, tomografias por mês, mas o hospital realiza, praticamente o dobro de exames no mesmo período. Ainda assim, nenhum paciente deixa de ser atendido — a Santa Casa assume os custos excedentes assim evitando que os pacientes fiquem sem o atendimento.
Esse contrato deverá ser renovado ao seu final, ocasião onde será solicitado os ajustes nos repasses.
Neste primeiro trimestre de 2025, a Santa Casa já acumula um déficit de aproximadamente R$ 2,6 milhões (não incluindo os custos do bloco cirúrgico). A média mensal geral de déficit gira em torno de R$ 1,5 milhão. A instituição, no entanto, reforça que prioriza a compra de medicamentos, o pagamento da folha dos funcionários e a remuneração médica, de acordo com a entrada dos recursos.
Foi ressaltado também que emendas parlamentares e convênios para obras têm destinação específica, legalmente vinculada, não podendo ser redirecionados para despesas como folha ou insumos.
A Santa Casa conta atualmente com 635 funcionários CLT, além de mais de 70 médicos prestadores de serviço. A estrutura interna é composta por:
391 profissionais da área assistencial, incluindo técnicos e enfermeiros;
175 colaboradores em setores de apoio, como higienização, lavanderia, manutenção, farmácia e nutrição (essenciais para o funcionamento do hospital);
69 funcionários nos setores administrativos.
Outro ponto abordado foi a alta demanda do PA. Em determinados dias, o hospital atende mais de 240 pacientes (também acima do contratualizado) sendo que menos de 15% são casos classificados como urgência e emergência (infartos, AVCs, acidentes, traumas, convulsões). O restante deveria ser tratado na rede básica de saúde, mas ainda assim é acolhido com responsabilidade pela Santa Casa.
A direção reforçou que todos os setores têm coordenação e profissionais qualificados, e que a instituição continua operando com seriedade e foco no essencial: garantir atendimento à população com o máximo de dignidade possível, mesmo diante das limitações impostas pela realidade do financiamento público.
A coletiva também evidenciou o papel fundamental dos colaboradores, que atuam com compromisso e dedicação, mesmo em contextos difíceis. A Santa Casa reitera que os desafios enfrentados não são isolados, mas sim reflexo do cenário vivido por milhares de hospitais filantrópicos no Brasil.
“Seguimos fazendo o máximo com o que temos. Cada profissional aqui dentro carrega uma missão — e é isso que nos mantém de portas abertas para cuidar da nossa gente”, concluiu o provedor.